Números dizem respeito ao período de janeiro a setembro deste ano, segundo a SSP-DF, a maior incidência desde 2017
As ameaças de morte que vivenciou durante o último relacionamento ainda ecoam na cabeça da brasiliense Bianca Fortini. Quatro anos depois de colocar um fim à relação abusiva, as agressões praticadas pela ex-namorada da comerciária, de 24 anos, ainda são lembranças constantes para a jovem. Além das marcas deixadas em seu corpo, Bianca carrega na alma sequelas do maior tipo de violência cometido contra mulheres dentro de relações amorosas: a psicológica. A informação é da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).
“Minha ex me traía desde o início do relacionamento. Sempre que eu descobria, ela dizia que a culpa era minha e no final eu acabava pedindo desculpas. Com o tempo, ela começou a me bater, a chutar o meu rosto e me ameaçar de morte. Eu nunca revidava. Se eu quisesse terminar, ela dizia que ia se matar. Hoje, tenho muitas marcas dessa relação, que só me trouxe sequelas”, relembra a jovem que também teve a perna perfurada com caco de vidro pela antiga namorada.
Casos em que a violência verbal evolui para agressão física são mais comuns do que parece. Apesar de tapas ou socos serem a primeira representação quando se trata de violência contra a mulher, não é apenas a agressão física que define um relacionamento abusivo. Violência psicológica contra mulheres representam 84,5% das denúncias no DF.
De acordo com o levantamento anual da , ameaças e insultos contra mulheres têm maior incidência na capital do país desde 2017, seguido por violência física e patrimonial.
Gráficos revelam a evolução de casos no DF:
Assim como em 2018, o ano de 2017 também apresentou índices de violência psicológica e física muito próximos. Apesar de a agressão moral assumir a liderançaDivulgação/SSP/DF
Em 2021, relatos de violência psicológica e moral somaram 84,5% das denúncias realizadas até o mês de setembro Divulgação/SSP/DF
De acordo com a psicóloga Lorrany Aquino, a violência psicológica começa de forma sutil, com justificativas para o comportamento abusivo, até evoluir para outros tipos de agressão. A especialista ressalta que pessoas expostas ao tipo de crime podem apresentar variados sintomas, como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, síndrome do pânico, entre outros.
Se ater a esses sinais foi o que ajudou a técnica de enfermagem Luiza Sousa, 23, a terminar a relação com o agressor. “No começo, o relacionamento era bom, mas com o tempo ele me diminuía por estar acima do peso e me acusava de coisas que eu não fazia. Um dia tentou se matar e me culpou pelo ocorrido. Isso piorou o meu quadro de ansiedade. Foi aí que consegui terminar”, revela a jovem.
Assim como Luiza, a estudante Esther Gusmão, 21, também conseguiu libertar-se de um relacionamento que a fazia mal após procurar ajuda de especialistas. Ela afirma que é necessário falar sobre o assunto, pois somente dessa forma é possível sair de situações de violência.
“Meu ex me traía, não gostava do fato de eu fazer faculdade, me humilhava e manipulava. Eu sofri muito. Para sair disso foi um processo difícil. Comecei a fazer terapia para aprender lidar com a dor que eu sentia e hoje eu estou melhor. É importante que toda vítima de violência doméstica não se cale, busque socorro e entenda que a culpa de tudo é somente do agressor”, conta a estudante.
Vitória
O governo federal sancionou, no fim de julho deste ano, lei que inclui no Código Penal o crime de violência psicológica contra a mulher.
Pelo texto aprovado no Congresso, a violência moral consiste em um rol de agressões não físicas e tem como punição a reclusão de seis meses a dois anos, além do pagamento de multa. A pena pode ser maior se a conduta constituir crime mais grave.
Confira a seguir o que configura violência psicológica:
Manipulação, ameaças, constrangimento, humilhação, entre outros.Arte: Yanka Romão
O texto aprovado pelo Congresso afirma que a violência psicológica contra a mulher consiste em causar qualquer tipo de dano emocionalArte: Yanka Romão
Que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulherArte: Yanka Romão
Para Aparecida Magalhães, também advogada, a criminalização da agressão é um dos maiores avanços do direito no Brasil.
Sinal Vermelho
O projeto aprovado pelo Congresso também assegura em lei a campanha “Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica”.
Rafaela Felicciano
A iniciativa estabelece um protocolo para a mulher denunciar em segurança que sofre violência. A campanha sugere que a vítima faça um sinal de “X” em vermelho na palma da mão e mostre, discretamente, a atendentes de farmácias, órgãos públicos e agências bancárias. Neste caso, os funcionários são orientados a acionar imediatamente a polícia para acolhimento da vítima.
Pela proposta aprovada, os poderes Executivo e Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e órgãos de segurança podem atuar junto a entidades privadas para a promoção do programa – permitindo, portanto, o convênio de outras empresas além das farmácias, como hotéis, mercados, repartições públicas e outros.